Alessandra

Desde pequena eu aprendi a dizer o que eu tinha “síndrome de Klippel Trenaunay” e era bem engraçado ver a reação das pessoas: “síndrome do que?” ou “Uau, que nome diferente!” rs…

O difícil era explicar o que era exatamente essa síndrome: é um problema de má circulação, tem tipo umas verruguinhas na pele que sangram, o pé incha, tem que ficar de repouso para não sangrar e não doer… Nunca saberia dizer aqueles nomes diferentes que os médicos usavam quando se referiam a mim, e também, ninguém ia entender mesmo.

A recomendação era deixar o pé sempre limpo e fazer repouso o tempo todo. O problema era fazer esse bendito repouso… como uma criança superativa e maluca poderia ficar sem pular e com o pé para cima?

Aí eu ia às consultas médicas que, na maioria das vezes, não apresentava nenhuma novidade. Vários tratamentos foram testados, mas nada deu o resultado esperado.

Depois veio a adolescência e com ela, as baladas… Ah, como era difícil chegar em casa de madrugada e ter que estancar o sangramento do pé, pra só então, depois do pé lavado e limpinho, poder dormir.

Me lembro da primeira vez em que ouvi a palavra amputação, nunca mais voltei no médico que sugeriu. Eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Mas aí o tempo passou, e num belo dia, a médica que eu mais gostava tocou no assunto. Disse pra eu pensar com carinho na possibilidade, que talvez minha qualidade de vida fosse melhorar, aí meu mundo caiu.

Talvez eu não visse muita vantagem na amputação, já que o argumento que os médicos mais usavam era “Você vai poder até andar de bicicleta”, aí eu pensava “mas eu já ando” rs.

O tempo passou e o pé piorando, as infecções cada vez mais constantes. Nos últimos tempos, eu mal conseguia andar uma quadra, por causa da falta de ar que a anemia profunda causava, que por sua vez, era ocasionada pela constante perda de sangue. Foi aí que decidi pela cirurgia: eu amava meu pé, mas já não aguentava tanto sofrimento…

E assim foi, no dia 22 de agosto de 2002, com 19 anos, minha vida mudou completamente. Como nada para mim é simples, 15 dias após a cirurgia tive uma embolia pulmonar e por causa de infecções, o coto demorou 1 ano para cicatrizar. Precisei de muita fisioterapia, tive que aprender a andar de novo, aceitar que aquele aparelho (a prótese) era minha perna a partir de então e eu teria que aprender a usá-la.

Não foi fácil e até hoje nem tudo são flores, mas posso dizer que tenho uma vida muito melhor. Tenho mais independência e posso fazer muito mais coisas, como andar de banana boat, descer num toboágua…

As pessoas me perguntam se eu deveria ter feito a cirurgia antes, aí eu sempre respondo que acho que foi na hora certa. Se eu tivesse feito antes, talvez teria me adaptado à prótese mais rápido, mas talvez não tivesse maturidade suficiente para entender tudo que aconteceu comigo, para aceitar e superar os obstáculos e realmente dar valor a cada mudança positiva.

Eu costumo dizer que crescer em hospital me tornou mais otimista e de bem com a vida, pois vi tantas pessoas em situações ainda piores que a minha, sorrindo e felizes. Digo que todos, TODOS MESMO, ao menos uma vez na vida, deveriam visitar um hospital. Assim, as pessoas dariam mais valor a tudo que Deus proporciona a nós e agradeceriam mais pelo maior e precioso bem, a nossa VIDA!!!

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